A Audiência Pública, proposta pela vereadora Sargento Regina, para discutir os direitos e deveres dos seguidores das religiões de origem afro e indígena e os principais problemas que envolvem as atividades desenvolvidas por eles, reuniu no auditório da Fundação Capitania das Artes (Funcarte) os mais atuantes Babalorixá (pai de santo) e Ialorixá (mãe de santo) da cidade. Uma das grandes metas da vereadora propositora da audiência é fazer com que os barracões existentes na cidade sejam reconhecidos como de utilidade pública para que consigam recursos junto aos poderes públicos para desenvolverem projetos sociais e assim atender os fiéis que passam necessidades.
“Os praticantes de religiões como a Umbanda e o Candomblé são cidadãos comuns, que vivem a rotina da cidade, utilizam os serviços de transporte coletivo, de postos de saúde, entre outros, e passam necessidades com qualquer um. Se os terreiros forem reconhecidos legalmente, poderão desenvolver trabalhos junto à comunidade e assim melhorar a qualidade de vida se seus fiéis”, explicou a vereadora. O encontro discutiu também soluções que amenizem a situação de intolerância por que passam os seguidores das religiões afro, que constantemente são vítimas de preconceitos e de discriminações.
A representante da Rede de Terreiro e Saúde da Paraíba, Ya Lúcia de Oliveira, participou da audiência e falou da importância da legalização dos terreiros e da constante luta contra a intolerância. “Sofremos todos os tipos de preconceitos. Mas nós temos a lei ao nosso favor e temos a obrigação de utilizar nossos direitos e lutar até as últimas consequências para conquistar a nossa dignidade perante a sociedade” disse Ya Lúcia. A mãe de santo paraibana já sentiu várias vezes na pele o gosto amargo do preconceito e acionou a justiça em alguns casos. “Não quero ter benefícios financeiros caso ganhe esses processos. A minha intenção é mostrar que sou uma cidadã e posso e exercer a liberdade religiosa, que é um direito de todo cidadão brasileiro” concluiu ela.
Também esteve presente o carioca José Marmo, representante da Rede de Terreiro e Saúde do Rio de Janeiro, que orientou os participantes sobre a importância de se criar políticas públicas, campanhas educativas, material informativo, realizar oficinas e palestras que esclareçam e atinjam as diversas áreas da sociedade sobre a questão do racismo e da intolerância sofrida pelas religiões afro e indígena. “Precisamos passar para a população em geral as informações sobre as nossas crenças e nossos cultos. Só conhecendo nossa realidade, a sociedade poderá nos entender e nos respeitar” disse José Marmo.
O presidente da Funcarte, jornalista Rodrigues Neto, disse que “foi uma honra a Fundação Capitania das Artes receber um evento tão importante, que busca criar políticas efetivas para capacitar os templos afro no tocante aos seus direitos, bem como buscar o respeito que os pais e as mães de santo e seus seguidores merecem”
A solenidade foi encerrada com a entrega de diplomas aos mais antigos pais e mães de santo de Natal, pelo reconhecimento aos serviços prestados à comunidade.