Diante de uma situação real de preconceito vivenciada na escola, o professor da Rede Municipal de Ensino de Natal, Otávio José Oliveira Fideles realizou um projeto chamado “A cor da cultura” para combater o racismo e outras situações de discriminação na Escola Municipal Professor Reginaldo Ferreira Neto, situada no Conjunto Parque dos Coqueiros, bairro Nossa Senhora da Apresentação. O projeto está concorrendo ao Prêmio Nacional de Educação Mind Lab Inspira.

 

Por meio de um jogo de tabuleiro, o professor Otávio Fideles introduziu o tema de "bloqueios sociais" em debates com as crianças entre 10 e 12 anos. O educador gravou um vídeo sobre a prática na sala de aula com a sua turma do 5º ano do Ensino Fundamental e foi selecionado entre 60 práticas de várias partes do Brasil. O projeto de Otávio concorre à fase final com outros oito finalistas em votação popular aberta até 20 de fevereiro, no site http://amplieperspectivas.mindlab.com.br/inspira.

 

Segundo o pedagogo, que integra o quadro da Prefeitura do Natal desde 2018, uma aluna, de 11 anos, estava chegando atrasada na escola para não se encontrar com colegas que a chamavam de “Isa* escura”, “encardida”, entre outros xingamentos. A estudante também evitava andar de cabelo solto porque a chamavam de “cabelo pixaim”. Para ajudar a garota a enfrentar o preconceito e conscientizar as crianças da escola sobre o problema, o professor utilizou o jogo chamado “Bloqueio”, cujo objetivo é alcançar o outro lado do tabuleiro passando por bloqueios do oponente.  

 

Para o desenvolvimento do projeto, Otávio unificou o Programa MenteInovadora e a formação do programa Cenas de Leitura, adotados pela Secretaria Municipal de Educação. “Para iniciar o jogo do MenteInovadora, precisa ter um texto base, então utilizei o livro de Drika Duarte - “Bonito é se Gostar”, onde fala de uma jovem negra com cabelo cacheado, e a sua avó, vai apresentar para ela a cultura africana e a personagem começa a ganhar empoderamento. 

 

De uma forma lúdica, o docente da Escola M. Prof. Reginaldo Ferreira conseguiu abordar com as crianças quais eram os "bloqueios sociais" que elas passavam. Após as partidas, o professor perguntou aos alunos se eles já tinham passado por momentos que tinham sido bloqueados. Depois de ouvir os relatos de colegas, a menina também se abriu e contou o motivo de ficar a uma quadra da escola se escondendo dos colegas que a ofendiam.

 

Próximo foco do projeto foi conscientizar os estudantes de outra turma, que faziam os ataques à estudante. Eles foram convidados a jogar o “Bloqueio” e ainda participar da discussão sobre os bloqueios sociais. Segundo o professor, os meninos, que faziam os xingamentos à aluna, perceberam o mal que estavam fazendo à colega e pediram desculpas. Além do jogo, o professor utilizou livros didáticos sobre Aceitação e Cultura Negra para combater o preconceito. Após a realização do projeto, a menina passou a participar das aulas normalmente e a exibir, com orgulho, o cabelo solto.

 

A estudante Isa*, de 11 anos, relatou que sofria preconceito por causa da sua cor. “O professor me apresentou o jogo do bloqueio e também para os alunos da minha escola. Ele conversou com os meninos sobre a discriminação e eles me pediram desculpas e eu perdoei. Não sofro mais preconceito. Hoje, me sinto bastante confiante, linda e maravilhosa”, declarou a aluna.

 

“A partir do jogo Bloqueio (Quoridor) e dos métodos metacognitivos da MindLab, os alunos puderam refletir sobre os bloqueios impostos pela sociedade, tais como as diferenças de gênero, de religião, de raça, etnia e necessidades especiais. Reconhecendo as diversas expressões culturais, favorecendo as diferenças através do processo de conhecer-se, descobrir-se, apoiar-se em novos repertórios de forma prazerosa e agir com responsabilidade e empatia na sociedade de que faz parte”, relatou o professor sobre o resultado do projeto. O professor ressalta que alunos com deficiência, adotados, gordos, ou ainda que usam óculos, também sofriam discriminação.  

 

Otávio Fideles conta ainda que realizou a mesma atividade com os pais dos alunos, com leitura de um texto, a aplicação do jogo e debates. Na ocasião, cada aluno presenteou os familiares com uma boneca “Abayomi”, que representa um símbolo da resistência, e foram confeccionadas por eles em sala de aula, com a ajuda do professor. Durante o projeto com os estudantes, construíram uma linha do tempo sobre o surgimento do preconceito, desde as guerras, e tiveram aulas de conceito histórico e os continentes.  

 

“Sinto-me realizado enquanto profissional. Na Universidade, ouvi muito falar sobre o potencial dos jogos, mas pouco vê ser aplicado em sala de aula. Fiquei muito feliz em ter a oportunidade de utilizar o jogo como uma prática educativa. Através desse método, vi os meus alunos externalizarem o que sentiam na casa deles e os diversos tipos de preconceitos dentro de uma sala de aula. Trabalhamos e vimos à evolução deles”, conta orgulhoso o professor da Rede Municipal de Ensino de Natal.    

 

Votação popular

Outros oito projetos desenvolvidos por professores de rede pública de cidades do Sul, Sudeste e Nordeste do país também foram selecionados para a etapa final do concurso. Os votos vão ser contabilizados até o dia 20 de fevereiro. O vídeo mais votado será consagrado campeão nacional e o autor do projeto ganhará uma viagem em família para o Beach Park, no Ceará.

 

O principal objetivo do concurso da Mind Lab Inspira é reconhecer as melhores práticas pedagógicas exploradas no Programa MenteInovadora, que desenvolve nos estudantes as habilidades cognitivas, sociais, emocionais e éticas com a intenção de que crianças e adolescentes consigam ter o controle emocional em momentos de dificuldade pessoal e profissional.

 

O nome Isa* é fictício para preservar a identidade da estudante