Brincar na lama, se vestir da fantasia do mangue, cair na folia e viver uma tradição que só quem participa e tem coragem, sabe explicar a emoção de sair no bloco Os Cão, considerado Patrimônio Cultural e Imaterial de Natal desde 2021.

A terça-feira de carnaval foi de muita animação com o tradicional bloco, que iniciou a concentração por volta das 9h30, sob a Ponte Newton Navarro e depois, com muita irreverência, tomou conta das ruas da Redinha. Não precisa abadá, nem muito menos de brilho. Nesta festa, basta se jogar na lama do mangue e a fantasia está pronta e a folia garantida.

Pode ser veterano ou sair pela primeira vez no bloco, a emoção é contagiante. “Os Cão” é sinônimo de alegria, diversão e descontração. Para quem vai a primeira vez, o receio dura somente até o momento de se jogar na folia e cobrir o corpo de lama. “É a minha primeira vez no bloco. Sou aqui da Redinha, moro aqui há 54 anos, mas durante muitos anos fiquei na indecisão, sem saber se participava ou não porque tinha receio de me melar. Eu imaginava que a lama fazia a pele coçar, mas é justamente o contrário: a lama do mangue faz bem para a pele. O ano passado eu acompanhei, mas não me melei. Hoje meu amigo me convenceu, estou aqui e não me arrependo,” disse Joana Darc. 

Ser veterano nos cão só tem uma vantagem, se diverte há mais tempo. É isso que José Marcelo, que estava acompanhando a amiga Joana, tenta expressar. Ele  não perde uma edição e comemorou o crescimento do bloco. “Tem 30 anos que eu acompanho o bloco. A primeira vez que eu vim, era bem pequenininho. É maravilhoso acompanhar e ver o bloco crescer a cada ano que passa. Todos deveriam passar por essa experiência. Isso aqui é demais, um daqueles momentos que só se vive uma vez e que a gente guarda com carinho na memória.”

O bloco estava repleto de foliões de todas as idades, desde crianças de colo até idosos, que acompanham a tradição do carnaval da redinha há anos. José Luiz Miranda, presidente do bloco, comemorou os 61 anos dessa folia. “É um sentimento inexplicável poder comemorar 61 anos de festa. É uma data muito importante. Esse bloco não está ficando idoso, ele está ficando mais experiente. O melhor disso tudo é que os jovens vão chegando e vão fortalecendo a tradição. É só olhar ao redor e ver essa criançada. Isso é muito importante para a Redinha e para a nossa cidade”, afirma Luiz.

A regra é clara: diversão sem moderação. Depois de muita expectativa e animação durante as três horas de concentração, a multidão do tradicional bloco seguiu pelas ruas da Redinha ao som da orquestra de frevo, do grupo de percussão Pau e Lata e dos embalos de muitos paredões de som. Segundo estimativa da organização, a expectativa para esse ano era de 14 mil pessoas acompanhando o bloco pelas ruas.

“É uma responsabilidade enorme colocar um bloco como Os Cão nas ruas da redinha, arrastar essa multidão e fazer com que essa tradição não se perca. O nosso papel é o de incentivar as pessoas a brincarem com a gente todo ano. Temos que honrar os esforços daqueles que fizeram o bloco ser o que é hoje. Espero que isso nunca acabe e que sempre tenha alguém para tomar conta dessa festa. Os Cão é do povo e temos que manter essa tradição”, disse, Rafael Ribeiro, um dos organizadores.

A programação do carnaval de Natal na Redinha segue até amanhã, dia 5 de março, a partir das 07h30, na Praça do Cruzeiro, com shows de João Mendonça, Debinha Ramos, bloco Baiacú na Vara, bloco dos Garis, Gasparzinho e A Pegada.